Aumento de tributação para a Contabilidade, mudança completa na apuração dos impostos e a convivência com dois modelos tributários até 2033.
Esses são apenas alguns dos impactos da reforma tributária para os contadores, que viverão a partir de agora o período mais desafiador da sua profissão.
Estamos diante de um grande divisor de águas, que vai tirar do jogo quem não souber se preparar corretamente.
Vamos conhecer a seguir o que mais vai mudar para os escritórios contábeis com a reforma tributária e como transformar isso em oportunidade para seu negócio.
Os impactos reais da reforma tributária na rotina dos contadores
De todos os impactos da reforma tributária para os contadores, os principais são:
1) Aumento da carga tributária para os próprios escritórios contábeis
Para escritório contábil, a reforma tem um ponto que incomoda logo de cara. O seu principal custo quase sempre é folha de pagamento.
E folha não gera crédito no modelo de não cumulatividade plena. Você paga salário, encargos, treina equipe, sustenta operação e isso não vira nada para reduzir IBS e CBS.
Quando você olha os cenários que já circulam no mercado, a carga sobre serviços bate perto de 30% em várias simulações.
Coloca isso em cima de um negócio que vive de margem apertada e você entende a pressão que vamos ter com a reforma.
Ou seja, ou o escritório precisa repassar parte desse custo na precificação do honorário contábil, ou precisa ganhar eficiência real para não ver margem entrar em queda contínua ao longo da transição.
2) Mudança completa na lógica de apuração de tributos
Hoje você consegue olhar para um contrato de prestação de serviço e já prevê como o imposto vai se comportar.
Existe um padrão histórico, faixa de alíquota etc.
Com a não cumulatividade plena, esse padrão se perde, pois a apuração passa a depender da cadeia.
Você vai precisar entender o que gera crédito, em qual etapa ele nasce, em qual etapa ele se perde, e se o cliente está operando com estrutura mínima para não transformar imposto em custo invisível.
O risco é você fechar um imposto correto no cálculo, mas errado no efeito econômico.
3) Fim do modelo tradicional de imposto em cascata
O imposto em cascata era ruim tecnicamente, mas ele tinha uma vantagem prática: você sabia onde ele batia e em que momento virava custo.
E isso dava previsibilidade.
Com crédito amplo, imposto vira direito condicionado. Se o cliente não controla documento, não classifica operação direito e não organiza a cadeia, esse direito some sem ninguém perceber.
O imposto aumenta sem que a empresa consiga explicar o motivo.
A reforma não cria o problema, mas expõe a desorganização que já existia no cliente e no próprio escritório.
4) Período de transição com dois sistemas funcionando ao mesmo tempo
A transição, como sabemos, vai até 2033.
Ou seja, durante anos, você vai trabalhar com duas lógicas dentro do mesmo cliente. Parte da operação segue no modelo antigo, parte já entra em IBS e CBS.
Esse cenário é perigoso por um motivo bem claro. O erro não aparece na hora. Ele nasce em classificação errada, mistura de base, plano de contas mal separado etc.
E aí a distorção só aparece meses depois, quando alguém tenta bater o relatório com a realidade.
A rotina vai ficar mais pesada, a chance de erro sobe, e a insegurança jurídica aumenta, porque muita regra só vai se consolidar com o tempo.
5) Impactos diretos no plano de contas dos escritórios
Você vai ter que abrir contas novas de IBS e CBS, separar crédito, compensação, ajustes de transição, e ao mesmo tempo manter vivo o rastro dos tributos antigos por anos.
Se você tentar encaixar tudo em estrutura genérica, igual ao que já usa hoje, o erro vai se tornar um padrão interno.
E o padrão errado é o pior tipo de problema, porque ele não estoura em um cliente. Espalha para a carteira inteira.
Aí você começa a entregar demonstração distorcida sem perceber, e o cliente toma decisão em cima de um número que não representa a operação.
Aqui entra uma pergunta prática. Seu plano de contas hoje aguenta sete anos de transição sem virar um Frankenstein? Se não aguenta, a reforma vai deixar isso claro bem rápido.
6) Mudança na natureza dos lançamentos contábeis com o split payment
O split payment muda a lógica de registro que você usa há décadas.
Hoje o imposto entra na operação, vira obrigação e depois sai do caixa. Com o split, ele é separado antes de virar dinheiro da empresa.
Em várias operações, você não vai mais ver aquele tributo circulando no banco como circulava antes.
Se você continuar lançando com a cabeça do modelo antigo, o passivo fiscal começa a contar uma história que não aconteceu.
A DFC passa a mostrar saídas que não passaram pelo caixa. A conciliação bancária bate com extrato, mas não bate com contabilidade.
O efeito disso é uma distorção crônica na leitura financeira do cliente. E, quando ele olhar fluxo de caixa e margem, vai cobrar explicação de você.
7) Impacto direto na DRE das empresas
A DRE muda de cara no ponto que o cliente mais usa para tomar decisão.
Hoje as deduções têm leitura rápida. Você sabe onde entram, o cliente entende o efeito final.
Com IBS e CBS, a composição da receita líquida passa a obedecer outra dinâmica, porque o imposto se comporta de outro jeito e o crédito interfere no resultado.
Isso mexe em margem bruta, margem operacional e comparativo histórico.
O cliente vai olhar o número e achar que piorou ou melhorou por desempenho, quando muitas vezes é reorganização tributária dentro da apresentação.
Você vai precisar ajustar comparativos, explicar variações com mais contexto e deixar a DRE conectada com a apuração nova.
8) Impactos no Balanço Patrimonial
O balanço vai sentir a reforma antes de muita gente perceber, porque a engrenagem fiscal dentro dele muda de lógica.
Hoje você trabalha com um raciocínio bem conhecido: tributo a recuperar quando existe crédito, tributo a recolher quando existe débito, e no fim do período você enxerga o saldo líquido disso no passivo ou no ativo.
Essa leitura está integrada ao seu fechamento há anos.
Com IBS e CBS, o crédito deixa de ser uma peça acessória e vira parte central da apuração.
Ele não nasce, circula e se consome do mesmo jeito que os tributos legados.
O resultado prático disso é que as contas fiscais do balanço vão ter outro comportamento de saldo, de timing e de permanência.
Você pode ter créditos maiores por mais tempo, pode ter compensações que não batem no mesmo mês, pode ter variação relevante por causa de cadeia e não por causa de venda ou compra isolada.
Se você insistir em registrar IBS e CBS do mesmo jeito que registrava ICMS, ISS, PIS ou Cofins, o balanço começa a contar uma história desalinhada com a operação.
O passivo fiscal aparece inflado ou esvaziado sem razão econômica. O ativo circulante mostra crédito que você não consegue usar na velocidade esperada.
E isso mexe na leitura de liquidez e de risco.
Isso tem consequência direta na vida do cliente.
Ele olha posição financeira, avalia fôlego de curto prazo, discute limite de banco, decide compra, decide investimento.
Quando o balanço está construído numa lógica que não corresponde ao imposto real, a decisão será errada.
Não porque o cliente não entende contabilidade, mas porque a contabilidade deixou de representar o que está acontecendo.
O seu trabalho aqui vai ser garantir que as contas fiscais do balanço reflitam a nova dinâmica desde o início, com estrutura separada, conciliação forte e leitura de crédito ajustada ao ciclo novo.
Sem isso, o fechamento até fecha. Mas fecha contando a história errada.
9) Transformação no papel das notas explicativas
Na transição, a nota explicativa passa a carregar o que o balanço e a DRE não conseguem explicar sozinhos.
Você vai ter, no mesmo período, parte da operação ainda seguindo regra antiga e outra parte já apurada em IBS e CBS.
Isso faz a carga efetiva variar de um jeito que o cliente não está acostumado a ver.
A alíquota nominal vira referência incompleta. A efetiva é que vai contar o que realmente aconteceu.
Sem deixar isso explícito, o número fica solto e abre espaço para leitura errada.
Para sustentar esse número, você vai precisar ter controle separado de regime, base, crédito e ajuste de transição.
Não para “cumprir norma”, mas para conseguir explicar por que o imposto daquele cliente ficou do jeito que ficou naquele mês e por que isso não significa, necessariamente, que a operação piorou ou melhorou.
É o tipo de detalhe que, se não aparece na nota, vira ruído na conversa com o cliente, com banco, com auditor, com qualquer um que vá olhar as demonstrações.
E no fim, não é a empresa que vai ser cobrada por essa clareza. É você, que assina a demonstração e sustenta o raciocínio por trás dela.
10) Dependência maior dos sistemas contábeis e fiscais
A reforma aumenta o peso do sistema na sua rotina. O que antes rodava sem muita fricção vai exigir validação detalhada nos primeiros fechamentos.
A regra fiscal muda e o sistema vai tentar acompanhar.
Enquanto essa adaptação acontece, qualquer parametrização errada no fiscal entra no contábil já pronta, e entra para vários clientes ao mesmo tempo, porque a integração faz o trabalho em escala.
O risco mais comum vai ser este:
- A apuração fecha dentro do módulo fiscal;
- O lançamento cai no contábil;
- Crédito fica classificado no lugar errado;
- Base fica segmentada fora do regime correto ou o split payment altera o comportamento do passivo sem que o plano de contas esteja preparado para isso.
Você só percebe quando margem, resultado e relatórios começam a se desencontrar.
A rotina nova pede um cuidado bem direto.
Conferir o que está chegando do fiscal antes de tratar como definitivo. Bater relatórios, revisar lógica de crédito, validar lançamentos nos primeiros meses.
Esse tipo de controle evita que uma falha pequena vire rotina errada dentro do escritório.
11) Impacto direto nos clientes do Simples Nacional
Para o cliente do Simples que vende para empresas que se creditam, a reforma muda o ambiente comercial de forma direta.
O cliente do seu cliente, quando toma crédito, vai começar a preferir comprar de quem entrega crédito completo.
Se ele percebe que, comprando de uma empresa do Simples, esse crédito não vem do mesmo jeito, ele reage como o mercado sempre reagiu: tenta baixar preço, pede uma mudança de estrutura ou troca de fornecedor.
O impacto aparece na venda antes de aparecer no imposto. E quando aparece no imposto, já veio tarde, porque o problema já começou no comercial.
Daí nasce uma encruzilhada que você vai ter que conduzir com clareza.
Em alguns casos, insistir no Simples significa aceitar que o cliente vai ficar menos competitivo e perder margem para continuar no regime.
Em outros, a migração para o regime regular vira caminho natural para manter mercado e preço.
12) Aumento da pressão consultiva sobre o contador
A reforma vai colocar você no centro de decisões que antes ficavam mais no fiscal.
O cliente vai querer saber como preservar crédito, quando rever regime, o que ajustar em preço, fornecedor e forma de vender.
Não porque virou “consultivo”, mas porque essas escolhas passam a mexer no imposto e na margem ao mesmo tempo.
Isso aumenta sua responsabilidade como uma Contabilidade consultiva.
Quando você orienta com clareza, o cliente caminha com mais segurança e a relação se fortalece.
Quando você não entra nessa conversa, ele decide no escuro, sente o impacto depois e volta cobrando correção. E aí o desgaste é maior do que teria sido no começo.
Leia mais: Como vender Contabilidade consultiva
Quais as oportunidades da reforma tributária para os contadores?
Quando o imposto depende mais da organização da cadeia do que de uma alíquota previsível, o cliente não consegue atravessar essa mudança sem alguém que traduza o impacto com clareza.
Esse papel cai no colo do contador e, para quem se prepara, isso vira oportunidade de posicionamento e de receita.
1) Virar o ponto de referência nas decisões que mexem em crédito
Seu cliente vai precisar entender por que duas operações parecidas podem gerar impostos muito diferentes no novo modelo.
E isso não vai estar escrito de forma simples na lei, vai estar na cadeia.
Quando você mostra onde o crédito nasce, onde ele some e qual efeito isso tem na margem, você para de ser procurado só no fechamento e passa a ser procurado antes da decisão.
Esse lugar muda o jogo do honorário, porque você vira peça de sustentação do negócio.
2) Vender projetos de transição além da mensalidade
A reforma cria um volume de trabalho que não cabe dentro do “mensal padrão”.
Adequação de plano de contas, parametrização de integrações, revisão de rotinas fiscais para garantir crédito, simulações de migração de regime, reorganização de contratos…
Tudo isso pode ser estruturado como projetos fechados, com escopo claro e entrega objetiva.
3) Se posicionar como especialista por cadeia e segmento
O IVA novo não pesa igual para todo mundo. Tem setor em que crédito vira vantagem e outros em que crédito se torna risco se a operação estiver mal desenhada.
Quando você domina a dinâmica de alguns segmentos fortes da sua carteira, vira referência natural naquele nicho.
Isso atrai cliente melhor, diminui disputa por preço e aumenta indicação qualificada.
4) Educar cliente para operar sem perder crédito
No modelo novo, o cliente só aproveita crédito se a operação estiver ajustada. Quando não está, ele paga mais e nem sabe onde perdeu.
A oportunidade é você assumir essa arrumação.
Mapear onde o crédito está escapando, ajustar rotina e deixar o cliente operando do jeito certo. Isso dá resultado que ele enxerga no imposto do mês seguinte.
E dá para vender como trabalho separado da mensalidade, porque tem escopo claro.
Você entrega ganho real para o cliente e cria uma receita de transição dentro do escritório.
Como preparar seu escritório contábil para a reforma tributária
A reforma já está desenhada. O que falta agora é você dominar o que muda na prática para não ficar reagindo cliente a cliente.
A Imersão Reforma Tributária para Contadores foi pensada para isso: um dia inteiro, presencial, com aprofundamento técnico e aplicação direta na rotina do escritório, cobrindo IBS, CBS, crédito, split payment, impactos no Simples, e o que realmente muda nos regimes e nas obrigações.
Você pode também se inscrever na AH Gestão e na AH Mentoria, onde já estamos auxiliando centenas de empresários contábeis a se adaptarem para a reforma e outros aspectos fundamentais para escalar o crescimento do seu escritório.


